Cerca de 7 em cada 10 meninos negros entrevistados, entre 13 e 17 anos, querem aprender como tratar meninas e mulheres com respeito, igualdade e sem violência. Esses dados, com representatividade nacional, compõem o relatório “Meninos Negros: Perspectivas e sentimentos”, parte da pesquisa “Meninos: Sonhando os homens do futuro”, que integra o projeto homônimo, que ouviu mais de 2.500 meninos de 13 a 17 anos, entre eles 1.435 meninos negros.
A pesquisa, idealizada pelo Instituto PDH / PapodeHomem e viabilizada por Natura, ouviu ainda pais, mães e pessoas responsáveis por meninos de 13 a 17 anos, homens e mulheres acima dos 18 anos, e também, meninas de 13 a 17 anos.
O que pensam as meninas?
No caso das meninas respondentes, perguntamos: “Você gostaria que os temas abaixo fossem ensinados aos meninos?: “Como tratar meninas e mulheres com respeito, igualdade e sem violência”. A resposta foi positiva: 96,80% das meninas (das 1.454 respondentes) gostariam que este tema fosse ensinado aos meninos. Isso só reforça a urgência de conversarmos com os meninos de forma mais profunda sobre a questão.
Novas perspectivas de masculinidades para meninos negros
Existem outros dados importantes a serem analisados e que estão relacionados à saúde mental dos meninos negros, por exemplo, 7 em cada 10 meninos negros têm medo (em alguma proporção) de serem acusados injustamente de assédio. Essa preocupação também paira sobre os homens negros, pois 61,66% dos respondentes, acima dos 18 anos, também têm medo (em alguma proporção) de serem acusados injustamente de assédio.
Um possível reflexo dessa preocupação pode ser encontrado no que lemos como um outro pedido de ajuda: 5 a cada 10 meninos negros (52,54%) querem aprender a paquerar sem assediar.
Sobre essas dores, o psicólogo Marlon Nascimento, especialista no diálogo com meninos negros e de periferia, considera: “Acredito que grande parte do medo dos meninos, em especial dos meninos negros, de serem acusados de assédio seja explicado pela dinâmica das relações étnicos-raciais no Brasil, mas também por sermos pouco propositivos com esse tema. E os dados da pesquisa mostram como a grande maioria dos meninos querem aprender como agir com respeito, igualdade e sem violência.”
Programa Meninos do Futuro
Mas como mudar essa realidade e acolher as dores desses meninos? Marlon Nascimento responde: “A respeito disso, ainda focamos muito mais nos problemas do que na solução. Nossa sociedade foca muito mais em punição do que em proposição ou entender de onde surgem essas dores e em acolher os meninos. Não basta apenas apontarmos o que é errado. Precisamos direcionar esses meninos de forma propositiva. Por isso uma proposta como a do Programa Meninos do Futuro tem que ser valorizada.”
Desde outubro de 2023, com a aplicação da pesquisa quantitativa do projeto “Meninos”, o Instituto PDH / PapodeHomem vem conversando com dezenas de profissionais de diversas áreas para conhecer as melhores ações, metodologias e formatos de projetos voltados para adolescentes, em especial meninos. A partir disso, o instituto tem desenvolvido o “Programa Meninos do Futuro”.
O programa “Meninos do Futuro”, se trata de um currículo aplicável em escolas, clubes de futebol, espaços esportivos e culturais, com foco no desenvolvimento de meninos entre 13 e 18 anos, focado em equilíbrio emocional, relações de respeito, práticas de cuidado, fim do assédio e de todas as formas de preconceito, maior capacidade de resolver problemas, assim como incentivar o desenvolvimento de maior senso de comunidade e responsabilidade. Atualmente o projeto está sendo testado e seus livros de atividades estão em fase de desenvolvimento.
Dados sobre meninos negros serão compartilhados em Salvador (Bahia)
São muitos os achados que compõem o relatório “Meninos Negros: Perspectivas e sentimentos”, por isso os dados serão apresentados em diferentes ocasiões. No dia 08/11, a partir das 8h da manhã, o Instituto PDH e o projeto Entre Ladeiras e Balagandãs, realizarão juntos o evento “Antirracismo e Educação: Qual o papel do educador no combate ao racismo nos ambientes educacionais?”. Neste evento, que será realizado em Salvador (BA), o público terá acesso aos dados do relatório “Meninos Negros: Perspectivas e sentimentos” e a uma formação antirracista ministrada por educadores especialistas.
“Meninos: Sonhando os homens do futuro”
Iniciado em janeiro de 2023, o projeto “Meninos” reúne três pilares principais: uma pesquisa, um documentário e a criação de um currículo para escolas e espaços esportivos. Desenvolvido com o apoio institucional do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, o projeto foi apresentado na 68ª Sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher, em Nova York.
O documentário “Meninos: Sonhando os homens do futuro”, atualmente em fase de gravação, mostrará os resultados da pesquisa, entrevistas com especialistas e histórias de vida de um grupo de meninos. A previsão de lançamento do filme e do relatório completo da pesquisa é de 2025.
Fazem parte deste projeto a empresa de pesquisa Talk e Juliana Fava, responsáveis pela etapa qualitativa; Zooma.Inc, pela pesquisa quantitativa; Casa Grida pela identidade visual e; Bravo Film Company, responsável pela produção do documentário.
Clique aqui para ler mais sobre o projeto.
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