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Crianças autistas negras são 2,6 vezes mais propensas a receber diagnósticos errados antes do TEA

Décadas atrás, pouco se sabia sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), o que levou a muitos diagnósticos errados ou até à ausência deles. No entanto, essa falta de diagnóstico ainda persiste na população negra. De acordo com um levantamento do Adapte, às crianças autistas negras têm 2,6 vezes mais probabilidade de receberem diagnósticos errados de transtorno de ajustamento ou transtorno de conduta, antes do diagnóstico de TEA. Além disso, os atrasos nos processos de avaliação de crianças negras podem alongar entre 1,5 e 3 anos o processo de diagnóstico de TEA.

“As crianças com autismo eram vistas como difíceis, distraídas ou desobedientes, em vez de serem reconhecidas como indivíduos com necessidades neurológicas específicas”, explica Thalita Possmoser, Vice Presidente Clínica da Genial Care. “Sem o diagnóstico, essas crianças não recebiam intervenções terapêuticas necessárias para seu desenvolvimento, o que poderia levar a uma série de dificuldades na vida adulta”.

De acordo com o Answer The Public, o termo “autismo adulto” é buscado cerca de 6.600 vezes por mês, o que evidencia uma demanda urgente por informações e suporte direcionado para essa população. Para muitas dessas pessoas, o diagnóstico correto só chega na vida adulta, quando os sinais são finalmente compreendidos como sintomas do autismo e não como comportamentos problemáticos.

Essa realidade é bem conhecida pelo ilustrador, ativista e homem negro Fábio Sousa, muito conhecido como Tio Faso, que só descobriu seu diagnóstico de autismo na vida adulta. “Na infância, não tive acesso ao diagnóstico porque os sinais que eu demonstrava eram considerados ‘preguiça’ pelos profissionais da época”, relata. A descoberta tardia trouxe para ele uma compreensão maior de si mesmo e o ajudou a respeitar seus limites. “Quando você descobre o autismo, você começa a se entender, saber seus limites, escolher as suas batalhas. Antes era tudo tentativa e erro e um monte de erro”, explica Faso.

Essa questão não é isolada e afeta muitos adultos negros, que cresceram sem o suporte necessário e enfrentaram julgamentos que afetaram seu desenvolvimento. Pesquisas apontam que as crianças negras têm menos probabilidade de receber o diagnóstico de TEA na idade adequada, o que limita o acesso a terapias e apoio educacional.

“Sem diagnóstico, muitos adultos enfrentam obstáculos em áreas essenciais, como emprego e relacionamentos, e podem se sentir desamparados e isolados”, afirma Thalita Possmoser. Ela explica que os terapeutas ocupacionais, juntamente com fonoaudiólogos e outros profissionais, podem fazer a diferença na vida das pessoas com autismo, especialmente quando o suporte é oferecido desde cedo.

O papel da intervenção precoce é inegável. Segundo o Ministério da Saúde, quando ocorre de 0 a 6 anos, a intervenção comportamental e o suporte educacional utilizam a neuroplasticidade – a capacidade do cérebro de formar novas conexões – para promover o desenvolvimento de habilidades essenciais. “A neuroplasticidade permite que o cérebro infantil responda positivamente aos estímulos direcionados, ajudando a desenvolver habilidades sociais e de vida diária que impactam a independência e a inclusão social”, reforça Possmoser.

Para Tio Faso, o diagnóstico tardio trouxe uma nova perspectiva de vida. “Entender quem você é de verdade é empoderador, e me orgulho que meu filho saiba quem ele é desde o início. Ele não passará pelas incertezas que enfrentei”, comenta. Hoje, Faso é pai de uma criança de 5 anos diagnosticada com TEA e acredita que, com o diagnóstico adequado, seu filho poderá crescer em um ambiente de aceitação e desenvolvimento, sem enfrentar os preconceitos que ele enfrentou.

“Embora o diagnóstico precoce de autismo esteja aumentando, as desigualdades socioeconômicas e raciais ainda são grandes barreiras, dificultando o acesso a cuidados especializados. Crianças autistas tornam-se adultos autistas, e o diagnóstico precoce e adequado contribui para uma sociedade mais inclusiva e compreensiva, onde todos são valorizados por suas singularidades.”, finaliza a profissional da Rede de Cuidado de Saúde Atípica.




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